(Salmos 120-134)
Os Salmos 120-134 formam um pequeno livreto, um saltério dentro do Saltério, que poderia ser intitulado: "Não há nenhum lugar como o lar." Mas o lar é onde o coração está, e o coração dos verdadeiros adoradores está sempre no lar do Pai celestial.
Cada um destes Salmos tem semelhantemente o título de "Cântico de romagem" ou "Cântico das Subidas," mas o significado de "subidas" não é óbvio. Pode ser uma progressão gradual, ou "subida," em cada um destes Salmos; ou, baseado numa nota do Talmude, que os quinze "cânticos das subidas" correspondem aos quinze degraus do Templo, a idéia pode ser de que cada um dos Salmos represente um degrau elevando ao Tribunal dos Homens; ou ainda, poderiam ser cânticos sobre "subir" do cativeiro da Babilônia para Jerusalém (veja Esdras 7:9). Provavelmente, estes cânticos foram cantados por "peregrinos" subindo para Jerusalém, para uma das festas.
Vem à lembrança o Salmo 84, quando os Filhos de Coré cantam: "Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos!" O salmista ali está longe da casa de Deus, com muitas saudades dos "átrios do Senhor." Sua atitude é: "Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados" (84:5).
Estes quinze Salmos amplificam o tema dos peregrinos saudosos dos pátios de Deus. Há um desejo intenso por parte dos "sem lar" de estarem "na Casa do Senhor" (134:1), porque é onde mora o Senhor (132:14). Portanto, o salmista está alegre "quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor"(122:1). Mas, antes que pudessem permanecer na casa de Deus, eles tinham que fazer uma viagem, uma viagem cheia de perigos e armadilhas. Esta viagem ficava deprimente, às vezes: "A nossa alma está saturada do escárnio dos que estão à sua vontade e do desprezo dos soberbos" (123:4). Mas continuavam caminhando, sabendo que: "O nosso socorro está em o nome do Senhor, criador do céu e da terra" (124:8).
Cerca do ano 125 d.C., Aristides escreveu numa carta a um amigo, "Se qualquer homem justo entre os cristãos passa deste mundo, eles se regozijam e oferecem graças a Deus, e acompanham o seu corpo com cânticos de agradecimento, como se ele estivesse partindo de um lugar para outro próximo." Mas precisamos fazer peregrinação antes de ficarmos permanentemente na casa do Senhor. Nós, também, precisamos acampar "em Meseque" e habitar"nas tendas de Quedar"! (120:5). Ficamos desiludidos com este mundo e repetimos as palavras daqueles que estão cansados dos lábios mentirosos e da língua enganadora (120:2), fartos de morar tanto tempo com aqueles que odeiam a paz (120:6), enjoados das atitudes arrogantes daqueles que são demasiadamente orgulhosos para confiar em Deus (123:4); exaustos de "sendas tortuosas" (125:5).
Nós, também estamos acostumados a perguntar: "De onde me virá o socorro?" A resposta: "Do Senhor, que fez o céu e a terra" (121:1-2). Tentações e provações são a sina dos moradores da terra. Mas para aqueles cujos corações estão postos na peregrinação, estas mudanças induzem-nos a concentrar nossa atenção diretamente no Senhor que fez o céu e a terra. Assim, aguardamos o Senhor e temos esperança no Senhor e em sua palavra (130:5, 6), e gozamos a vida simples de um peregrino (131:13). Um espírito quieto e calmo prevalece, porque, apesar do tumulto à nossa volta, Deus ainda está no céu. Então: "Entremos na sua morada, adoremos ante estrado de seus pés" (132:7).
Pagamos o preço por nos tornarmos estrangeiros na terra, mas podemos gozar o preço porque sabemos que grandes cousas o Senhor tem feito; "por isso, estamos alegres" (126:3). Semeamos em lágrimas aqui, mas colheremos em alegria. "Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes" (126:6). Nosso propósito, aqui, é semear, às vezes em lágrimas. A colheita virá mais tarde. Mas o saber que colheremos alegra-nos agora. Por isso mesmo agora podemos saborear um pouco do que estaremos fazendo em toda a eternidade: estar "na Casa do Senhor", erguer nossas "mãos para o santuário", e bendizer ao Senhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário