O último de todos os julgamentos, o do Grande Trono Branco, é conhecido como o Juízo Final. Os termos “grande” e “branco” aludem a poder e glória, bem como a santidade e justiça do Justo Juiz, o Senhor Jesus Cristo (Jo 5.22), designado pelo Pai para julgar com justiça (At 17.31). Ele “julgará os povos com retidão” (Sl 9.80) em todos os julgamentos escatológicos: no Tribunal de Cristo (2 Tm 4.8; Ap 22.12); no Julgamento de Israel (Dn 12.1; Jl 2.32); no Julgamento das Nações (Mt 25.31,32; 13.40-46); no Julgamento do Diabo e suas hostes (Ap 20.10; Rm 16.20) e no Trono Branco (Ap 20.13; 21.8; 22.15).
1. Quem participará do Juízo Final? Em 2 Timóteo 4.1 está escrito que o Senhor Jesus Cristo há de julgar os vivos e mortos, na sua vinda e no seu Reino. Os vivos, no tempo desse julgamento final, já terão sido julgados, exceto os sobreviventes do Milênio. Mas observe que o Juízo Final é o julgamento dos “mortos”, termo que aparece em Apocalipse 20.11-15 quatro vezes. Todos os mortos em pecado que ainda não tiverem sido julgados estarão em pé diante do Trono Branco. Quem serão eles? (1) Os mortos que não ressuscitarem no Arrebatamento da Igreja; (2) os mortos durante a Grande Tribulação e na batalha do Armagedom que não ressuscitarem antes do Milênio; (3) os pecadores contumazes que morrerem durante o Milênio.
Não serão proferidas, nesse último grande juízo, duas sentenças, como ocorreu no Julgamento das Nações (Mt 25.46). Haverá uma única condenação para os ímpios (Ap 20.15). Alguns teólogos dizem que os salvos também hão de ser julgados, mas isso contraria o que Jesus afirmou, em João 5.24, ARA. O termo “juízo” (gr. krisin), aqui, diz respeito a “decisão”, “julgamento”, no sentido forense, especificamente acerca do juízo divino. Nesse caso, o salvo em Cristo já tem a vida eterna e não mais será julgado quanto ao pecado (cf. Rm 8.1,16,33,34), a menos que se desvie do caminho da justiça e morra sem Cristo (2 Pe 2.20-22; Mt 24.13; Ap 3.5).
O que foi dito acima também vale para os servos de Jesus Cristo, dentre os povos naturais, que vierem a morrer durante o Milênio. Por analogia, assim como os mortos em Cristo, por ocasião do Arrebatamento da Igreja, não serão julgados quanto ao pecado, ao ressuscitarem (1 Ts 4.16-18; Ap 22.12), também não haverá necessidade de os mortos em Cristo durante o Milênio ressuscitarem para comparecer diante do Justo Juiz na qualidade de réus (cf. Jo 5.22-29). Por que eles precisariam ouvir a sentença de salvação, uma vez que já terão a plena certeza e a garantia de que estão em Cristo?
2. Por que a morte e o Hades darão os mortos? Segundo Apocalipse 20.13, o mar dará os mortos que nele há. Jesus também afirmou que “todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz” (Jo 5.28). Onde quer que estiverem, os pecadores ressuscitarão para comparecer diante do Trono Branco. A morte (gr. thanatos) e o inferno (gr. hades) darão os seus mortos, os quais, após o Juízo Final, serão lançados no Lago de Fogo (Ap 20.13,14). O vocábulo “morte”, aqui, é uma metonímia e alude a todos os corpos de ímpios, oriundos de todas as partes da Terra, seja qual for a condição deles. Há pessoas cujos corpos são cremados; outras morrem em decorrência de grandes explosões etc. Todas terão os seus corpos reconstituídos para que compareçam perante o Juiz.
Como todos terão de comparecer perante o Justo Juiz em seu estado pleno — espírito, alma e corpo —, estes elementos terão de ser reunidos. Daí a ênfase de que “a morte” e também “o inferno” darão os seus mortos. O termo “inferno”, na passagem em apreço, é hades, também empregado de forma metonímica. Assim como a “morte” dará o corpo, o Hades dará a parte que não está neste mundo físico, isto é, a alma (na verdade, alma+espírito).
Todos os sentenciados ao Lago de Fogo, no Trono Branco, serão pecadores já condenados por antecipação (cf. Jo 3.18,36), haja vista o Hades ser um lugar de tormentos onde os injustos aguardam a sentença definitiva (cf. Lc 16.23). Nenhuma alma salva em Cristo se encontra no Hades, mas no Paraíso (Lc 23.43; 2 Co 12.2-4). Diante do exposto o que significa: “a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo”? Denota que os corpos e as almas dos perdidos — que saíram do lugar onde estavam e foram reunidos na “segunda ressurreição”, a da condenação (Jo 5.29b) —, depois de ouvirem a sentença do Justo Juiz, serão lançados no Inferno propriamente dito, o Lago de Fogo.
Portanto, a frase “a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo” (Ap 20.14) tem uma correlação com o que Jesus disse em Mateus 10.28: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (ARA). Ou seja, as almas (“o Hades”) e os corpos (“a morte”) serão lançados no Geena, o Inferno Final. Depois disso, nunca mais haverá morte, o último inimigo a ser vencido (1 Co 15.26).
3. Como será o julgamento dos que tiverem morrido sem ouvir o Evangelho? Estes, certamente, serão julgados, mas não sabemos ao certo quais serão os critérios, exceto quanto à infalível justiça divina. Principalmente por se tratar de uma exceção, o Justo Juiz não deixará de tratar desse caso com imparcialidade. Como disse Abraão ao Senhor, em sua intercessão por Ló, “Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti seja. Não faria justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18.25).
Não cabe a nós fazer afirmações apressadas e dogmáticas quanto ao presente assunto, porém o texto de Romanos 2.12-16 (ARA) apresenta algumas certezas quanto ao Juízo Final no que concerne às pessoas mortas sem nunca terem ouvido a mensagem salvadora do Evangelho:
a) Tendo conhecido ou não o Evangelho, todos serão julgados segundo as suas obras; e os pecadores impenitentes serão condenados. “Assim, pois, todos os que pecaram sem lei também sem lei perecerão; e todos os que com lei pecaram mediante lei serão julgados” (v. 12). Em Ezequiel 18.20-24 fica claro que Deus pune a alma pecadora, além de considerar tanto o arrependimento do ímpio, quanto o desvio do justo.
b) O julgamento não se dará com base no que uma pessoa dizia ser, e sim no que de fato ela praticou na Terra. “Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (v. 13).
c) A lei aqui não é propriamente o Evangelho, mas aquilo que a pessoa assimilou durante a sua vida em relação a Deus. “Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos” (v. 14). Como aqueles que não têm lei poderiam proceder de acordo com ela? O Senhor não se revela ao ser humano apenas pela sua Palavra. A própria criação manifesta a sua glória e a sua divindade (Sl 19.1-3; Rm 1.20).
d) Essa lei fica gravada no coração dos homens, e as suas consciências e os seus pensamentos os acusam ou os defendem, a fim de que não tenham reclamações, naquele Dia. “Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se” (v. 15).
e) Tudo o que está gravado no coração dos seres humanos, na parte mais profunda de seu ser, virá à tona. Os livros se abrirão no dia do juízo, e Deus, por meio de Cristo Jesus, julgará os segredos de cada um. “... no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu evangelho” (v. 16).
4. Quais serão os critérios do Juízo Final? A salvação é exclusivamente pela graça, mas os mortos sem salvação serão julgados de acordo com as coisas escritas nos livros, isto é, segundo as suas obras (Ap 20.12). E aquele cujo nome não constar do livro da vida será lançado no Lago de Fogo (Ap 20.15). Isso significa que o Senhor tem o registro de tudo o que fazemos (Sl 139.16; Ml 3.16; Sl 56.8; Mc 4.22).
5. O que é o livro da vida? É o registro de todos os salvos, de todas as épocas (Dn 12.1; Ap 13.8; 21.27). Alguns teólogos afirmam que Deus relacionou toda a humanidade no livro da vida e risca dele quem não recebe a Cristo como Salvador. Não obstante, a promessa “de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida” (Ap 3.5) é dirigida aos salvos que vencerem, permanecendo em Cristo (cf. Mt 24.13; 1 Co 15.1,2). Em Filipenses 4.3, o apóstolo Paulo mencionou cooperadores “cujos nomes estão no livro da vida”, porém antes asseverara: “estai sempre firmes no Senhor, amados” (v. 1; cf. Ap 2-3).
Outros teólogos têm afirmado que Deus inseriu nesse livro somente os nomes dos eleitos para a salvação antes da fundação do mundo. Mas, em Apocalipse 17.8, está escrito que os nomes dos salvos são relacionados no livro da vida “desde a”, e não “antes da” fundação do mundo. Há uma enorme diferença entre “antes da” e “desde a”. No grego, o termo “desde” (apo) significa “a partir de”.
A frase “cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo” — “whose name has not been written in the book of life from the foundation of the world” (NASB) — denota que os nomes dos salvos vêm sendo inseridos no livro da vida desde que o homem foi colocado na Terra criada por Deus (Gn 1). Esse mesmo tipo de construção frasal foi empregado em Apocalipse 13.8 para denotar que todos os cordeiros que foram sendo mortos desde o princípio apontavam para o sacrifício expiatório do Cordeiro de Deus (Is 53; Jo 1.29). Não existe, pois, uma lista de eleitos previamente pronta antes que o mundo viesse a existir.
Uma pessoa só pode ter o registro do nome em cartório depois de seu nascimento. Da mesma forma, o nome de um salvo só passa a constar do livro da vida após seu novo nascimento (cf. Jo 3.3). Na medida em que os indivíduos creem em Cristo e o confessam como Senhor (Rm 10.9,10), vão sendo inscritos no rol de membros da Igreja dos primogênitos, a Universal Assembleia (At 2.47, ARA; Hb 12.23). Segundo a Palavra de Deus, existe a possibilidade de pessoas salvas, que não perseverarem até ao fim, terem os seus nomes riscados do livro da vida do Cordeiro (Ap 3.5; Êx 32.32,33). Serão riscados do livro da vida os que permanecerem desviados do Senhor e em pecado (cf. Ap 3.3-5; 21.27; Hb 3; 6; 10; 2 Pe 2).
Maranata!
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